Seu filho irá trabalhar com quais robôs no futuro?

Nossas crianças precisam saber que terão como companheiros de trabalho os robôs.

IA
Thiago Rondon
Consultor em tecnologias cívicas
16.5.2023

O último relatório do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro do trabalho afirma que 65% das crianças que estão na escola primária atualmente irão realizar trabalhos que ainda não existem. Todas as revoluções industriais mudaram as formas dos empregos, e com a quarta revolução industrial não será diferente.

Tenho duas filhas, de 3 e 7 anos, e como muitos pais, observo e reflito sobre as mudanças e os desafios da sociedade para poder prepará-las para serem felizes e saberem qual o papel delas. Uma parte desse desafio passa por prepará-las com sabedoria e conhecimento sobre o futuro do trabalho, mesmo que eu não tenha uma bola de cristal.

A primeira revolução foi marcada pelo carvão e o ferro, e começamos a nos conectar com estradas e tornar a produção mecânica. Na segunda revolução, foi o surgimento da eletricidade e a descoberta do petróleo. Foi nessa época também que foi possível o enlatamento de produtos de consumo em massa, o que permitiu o crescimento das cidades. A terceira revolução foi da inovação digital, em que começamos a consumir informações pela iInternet e a produção foi automatizada.

Porém, agora vivemos a quarta a revolução industrial, que é a revolução de serviços. Estamos operando com “fábricas inteligentes” para produção, muito diferente da automação da produção. Hoje desenvolvemos tecnologia capaz de aprender enquanto realiza sua função, o que provavelmente irá ocupar o emprego de milhares de pessoas nos próximos anos, mas irá criar novas posições para quem estiver preparado para lidar com essa transição.

Provavelmente, o grande aprendizado entre as revoluções industriais esteja no surgimento de novos tipos de organizações e empregos. Mas existiu uma mudança muito menos radical sobre o propósito do trabalho. Funções são substituídas, mas trabalhos são aprimorados na maioria dos casos.

A startup Artersys já realiza análise de imagens de ressonância magnética do fluxo sanguíneo em apenas 15 segundos. A mesma tarefa é realizada por nós, humanos, em média por 45 minutos. Qual será o trabalho de um radiologista em um futuro breve?

Um piloto de avião comercial comanda uma aeronave diretamente em média 7 minutos em um Boeing 777 — todo o resto do trajeto é automatizado. Mas recentemente foi comprovado que um software pode realizar a tarefa de decolar e pousar aviões sem a necessidade direta de humanos. A tecnologia foi desenvolvida pela Darpa, agência especializada no assunto nos Estados Unidos. Qual será o trabalho de um piloto de avião em um futuro breve?

A Kira Systems, que também utiliza inteligência artificial, já realiza análise em documentos no momento em que são digitalizados em processos legais para buscar relevância para casos judiciais, e que já evita o esforço de interpretação de advogados em até 60%. Qual será o trabalho de um advogado em um futuro breve?

Exércitos militares ao redor do mundo já estão sendo substituídos por robôs, como é o caso do Fedor na Rússia, que é um verdadeiro robocop. Os próprios robôs tomam decisões sobre como lidar com suas missões em campo. Qual será o trabalho dos soldados em um futuro breve?

Estes são casos que ilustram os cargos mais remunerados no Brasil, assim como os vestibulares mais disputados. Se não temos uma bola de cristal, é possível ver algumas evidências da revolução de serviços, tais como a importância de habilidades analíticas e atribuições interfuncionais.

Como afirma o relatório do Fórum Econômico Mundial, um dos nossos grandes desafios é repensar o sistema educacional, que com o tempo desenvolveu uma dicotomia entre humanas e ciências, em que a primeira é orientada em treinamento e a segunda na teoria formal, as quais raramente elas são contempladas em conjunto.

Na Dinamarca, 70% dos trabalhadores já vêm com bons olhos mudanças de carreira no meio da vida profissional, enquanto na maioria da Europa este índice é de 20%. Isto é explicado pelo sistema de ensino que já vem trabalhando para esta nova realidade. Provavelmente, teremos pilotos de avião exercendo novas funções além de comandar o avião na cabine; assim como radiologistas com novas obrigações além de analisar imagens; e advogados extrapolando sua função além de casos judiciais. O grande dilema é que esta revolução de serviços, como as outras, irá criar novas formas de trabalho e será preciso que nossas crianças tenham ciência de que eles terão como companheiros de trabalho os robôs.

O sistema de ensino ter que ser reestruturado, mas nossa função como pais é preparar as crianças para encarar trabalhos mais transitórios, lidar bem com expectativas e frustrações. Precisamos ajudar nossos filhos a interligar disciplinas da escola em outros ambientes e mostrar que as habilidades críticas e de interligar conhecimentos podem oferecer um cenário com novos tipos de trabalhos que vão ultrapassar a formalidade atual. Será sem sombra de dúvidas necessário empreender em uma sociedade com cyborgs e robôs.

Artigo publicado 01/05/2018 na coluna Multidões, na Época Negócios.

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